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Intervenção Precoce: O Que Precisamos Saber?
- Thiago Gusmão
- Postado em 18/02/2021
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Ao discutirmos sobre Transtorno do Espectro Autista, algumas questões logosurgem. Uma se relaciona a qual o momento que a família precisa buscar profissionaispara iniciar a intervenção. Essa pergunta é imediatamente seguida por respostas como:“quanto antes melhor” ou “não há tempo a perder” ou “tempo é cérebro”, descrevendo aimportância da precocidade da intervenção.
Mas o que é intervenção precoce? Por que os profissionais a definem como umaintervenção fundamental para o desenvolvimento da criança com TEA?
De acordo com a Associação Brasileira de Pediatria (2019) a IntervençãoPrecoce é um conjunto de modalidades terapêuticasque visam aumentar o potencial dodesenvolvimento social e de comunicação da criança, proteger o funcionamentointelectual, reduzindo danos, melhorar a qualidade de vida e dirigir competências paraautonomia.
Fica claro assim que a intervenção precoce não é um campo de domínio daanálise do comportamento, mas a Análise do Comportamento é uma das abordagens dapsicologia que desenvolveu um modelo de intervenção precoce com bases científicas, eque compõem a equipe multidisciplinar que realiza esse tipo de intervenção. Quais ascaracterísticas dessa intervenção baseada nos princípios analíticos comportamentais?
A primeira coisa que precisamos ter clareza é que a intervenção precoce, é umModelo de Tratamento Abrangente que tem por objetivo desenvolver a criança emvários conjuntos de habilidades. (Steinbrenner, J. R., Hume, K., Odom, S. L., Morin, K.L., Nowell, S. W., Tomaszewski, B., Szendrey, S., McIntyre, N. S., Yücesoy-Özkan, S.,& Savage, M. N., 2020). Crianças com autismo não desenvolvem no ritmo esperado nosdomínios de linguagem, social, brincar e, em muitos casos, no domínio cognitivo. Aaprendizagem incidental é prejudicada pelo déficit em iniciação social e atençãocompartilhada. Intervenção precoce objetiva acelerar a taxa de aprendizado da criança,produzindo generalização das habilidades e maximizando os efeitos daneuroplasticidade. (Bairrão e Chaves, 2002).
Esse modelo teve como ponto de partida o estudo de Loovas (1987). Neste estudoo autor comparou o desenvolvimento de dois grupos um grupo experimental e um grupocontrole. O grupo experimental foi composto por crianças que recebiam até 40h deintervenção e o Grupo Controle era composto por crianças que tinham acesso até 10h. Aintervenção de ambos os grupos consistia em programas individualizados de ensino e
abordavam várioscomportamentos alvo. Os resultados mostraram que 47% do grupoexperimental atingiram desempenho próximo aotípico e foram integrados em classesregulares, enquanto no grupo controle somente 2%.
McEachin, Smith e Lovaas (1993) avaliaram se os efeitos da intervençãocomportamental precoce intensiva persistiram. Examinadores “cegos” avaliaram ascrianças do estudo de Loovas (1987) agora com media entre 10 e 13 anos de idade. Elespuderam constatar que dos 9 sujeitos experimentais que alcançaram os melhoresresultados aos 7 anos de idade, 8 deles eram indistinguíveis da média das crianças emtestes de inteligência e comportamento adaptativo, mostrando dessa forma que aintervenção precoce pode produzir efeutos relevantes a longo prazo.
Baseado no estudo de Loovas (1987) a intervenção precoce adquiriu as seguintescaracterísticas: procedimentos de ensino específicos referenciado para treinamentodiscriminatório, uso de uma proporção de 1: 1 adulto para criança nos estágios iniciaisdo tratamento e implementação em casa ou nas configurações da escola para uma faixade 20 a 40 horas por semana durante um a quatro anos de vida da criança. (Reichow,Hume, Barton, Boyd, 2018)
Entre as pesquisas que avaliam o impacto da intervenção precoce, Rodgers,Marshall, Simmonds, Le Couteur, Biswas, Wright (2020) descrevem que tal intervençãoimpacta na saúde física e mental, nos custos médicos, na assistência social, custo porano de vida ajustado pela qualidade de vida, nos custos e na realização educacional, noemprego, nas amizades e relacionamentos e na independência. Landa (2018) afirmaainda que as crianças pequenas com TEA se beneficiam ainda mais se seus paisaprendem a implementar estratégias de engajamento responsivas à criança quando umtreinamento de pais é fornecido.As evidências apoiam a combinação de intervençãomediada pelos pais e por profissionais para maximizar os ganhos de desenvolvimentoinfantil
Essa intervenção precisa ser acessível a bebês ou crianças pequenas mostrandosinais de atrasos sociais e de comunicação, mesmo quando esses sinais são insuficientespara o diagnóstico de TEA. O enriquecimento ambiental ou de desenvolvimento éimportante para o desenvolvimento de todas as crianças.
Referencias Bibliográficas
Lovaas, O. I. (1987). Behavioral treatment and normal educational and intellectual
functioning in young autistic children. Journal of Consulting and Clinical Psychology,
55, 3-9.
McEachin, J.J., Smith, T., & Lovaas, O.I. (1993). Long-term outcome for children with
autism who received early intensive behavioral treatment. American Journal on Mental
Retardation. 97, 359- 372.
Steinbrenner, J. R., Hume, K., Odom, S. L., Morin, K. L., Nowell, S. W., Tomaszewski,
B., Szendrey, S., McIntyre, N. S., Yücesoy-Özkan, S., & Savage, M. N. (2020).
Evidence-based practices for children, youth, and young adults with Autism. The
University of North Carolina at Chapel Hill, Frank Porter Graham Child Development
Institute, National Clearinghouse on Autism Evidence and Practice Review Team.
Reichow B, Hume K, Barton EE, Boyd BA. (2018) Early intensive behavioral
intervention (EIBI) for young children with autism spectrum disorders (ASD).
Cochrane Database of Systematic Reviews
, Issue 5
Rodgers M, Marshall D, Simmonds M, Le Couteur A, Biswas M, Wright K, et al.
Interventions based on early intensive applied behaviour analysis for autistic children: a
systematic review and cost-effectiveness analysis. Health Technol Assess 2020;24(35).
Rogers, S.J., Dawson, G., Vismara, L.A. (2012).
Autismo. Compreender e agir em
família. Lisboa, Portugal. Ed. Lidel.
